Friday, August 29, 2014

A Dança

Noite, espectro tenso.
Palco do desprendimento;
A testemunha da vida que geme
No porão do medo.
Lembras-te de quando saltitávamos
Na via dos soterrados
E libertávamos paredes?
Dançávamos
Porque não podiam dançar
Todas aquelas árvores processadas
Em poluição visual.
Dançávamos
A dança do silêncio
Dos quarteirões leiloados
Da história abandonada
Ruindo por todos os lados,
Bloco a bloco,
Sobre vultos trafegantes
E claudicantes,
Seus diletantes.
Dançávamos
O silêncio labrego
Dos filhos do provincianismo;
Éramos ridículos
Porque eles não ouviam a música,
Tampouco o grito.
Dançávamos o corpo
Para contrariar a rigidez das casas-torres.
Contorcíamos a mente
Para iluminar os bastidores.
O maior terror de uma cidade fantasma
É o calvário voluntário
Dos seus espíritos implodidos
Reduzidos a nada.

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