Sunday, August 3, 2014

Isabel (Catarse Portuense)

Pelas artérias escuras
Ou numa ruela pálida
Sobre o asfalto frígido
Foges da noite ávida

Transgrides a lucidez
Beijas o alcatrão húmido
Desdenhas da sensatez
Vingas-te do olvido

Desafias altitudes
Entranhas-te pelas Virtudes
Pelos jardins que choram
As tuas vicissitudes

Pela urbe que pernoita
Fazes-me sequaz
Da purgação que te açoita
Dos pecados que te dão paz

Entorpeces esquinas
E avanças veredas
E das muralhas fernandinas
Expeles labaredas

A tua silhueta insegura
O equilíbrio à prova
No trapézio onde os loucos
Recitam-te em verso e prosa

A cara, a coroa
O vinho, a cruz
O passeio, a garoa
O calvário, a luz
As lágrimas salgadas
As curvas delgadas
As madeixas douradas
As roupas molhadas
Beijos na sarjeta
A cidade à espreita
A percepção rarefeita
A rua de Cedofeita
A Travessa das Almas
O recanto dos corpos
Uma noite inóspita
Que dispensa remorsos
O dilúvio que finda
Traz a calmaria
Ao atalho onde seguem
A tua sina e a minha.


Nota: dedicado a Joana Isabel, uma moça portuense.

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