Sunday, July 20, 2014

La Milanese

No teu entorno perdido
Dado sempre aos enganos
Mas desvendei-te, por fim
Nos desatinos mundanos

Sem querer ou mesmo querendo
Foi só uma questão de tempo
Até ver-me de ti peregrino
Nos meandros do teu destino

Eu juro pelos nossos abraços
Pelas noites nos teus braços abrigado
E por todo o vinho degustado
Pelos cartões postais enviados
E pelas sessões de cinema
Pelas nossas gargalhadas
E todas as jantaradas
E também pelas brigas travadas
E até pelas minhas fobias
- que não merecem mais que ironia -
Que a tua hospitalidade
Na minha própria cidade
Desacinzentou-me o céu
Descomprimiu o meu léu
Redecorou-me os lampejos
Regenerou-me os ensejos

Fiz zona de conforto
Na órbita da tua existência
O medo zelado de ti
Não era mais do que reverência

O teu humor rabugento
E a minha introversão
Elos tão fortes criados
Nossa estranha comunhão

A tua presença sutil
A tensão no teu feitio
A aspereza das tuas palavras
Tom sisudo mas sempre gentil
A rudez travestida em gestos
E teus trapos vadios e surrados
A estridência de um olhar
Que me guardava empedrado

De todas as nossas partilhas
- garrafas e confrarias -
A minha maior alegria
Foi ter-te em sintonia
Para edificarmos
Com a força da cumplicidade
A égide e o sustentáculo
Do palácio da amizade.


Nota: poema dedicado à minha amiga italiana Chiara Grilli, a Chiarinji.