Tuesday, January 26, 2016

Varsóvia

Nestes dias esmaecidos,
Com o inverno à espreita,
Tão ausente é a tua presença
Nesta pacata tormenta.

De soslaio te reparo
Num silêncio de aflição,
Como um desses monumentos
Que mendigam atenção.

Sufoca-me o cheiro
Da tua pálida pele;
Nesta cidade de guerras
Rendo-me ao que me fere.

Juízo

Um dia me ajuízo,
Perco as estribeiras;
As rimas sacudo
Pelas ribeiras.
Um dia assim,
Sem sal,
Sem festim;
Um dia recolho
Os pedaços de mim.
E já recomposto,
De tudo me desfaço.
E com a viola ao dorso
Dou-me aos passos.

Um dia me ajuízo
E ouço o sermão
Que sempre emana
Do meu coração.
Um dia assim,
Chuvoso,
Sem fim.
Um dia eu deixo
Queimar o estopim.
E onde eu for
Será o meu lar;
Na paz interior
É onde irei habitar.

Monday, January 4, 2016

Cracóvia

Não sei a que vim;
Afundo em rodeios
No silêncio sem fim,
Nos meus devaneios.

Da minha própria voz
O timbre não lembro,
O inverno é o algoz
Que sopra em Dezembro.

Na estrada perdi-me
Na ânsia maldita;
Paixão que não redime
E é tampouco proscrita.

Destes patéticos dias
Que já escuros começam,
As noites fazem as vias
Onde meus pés tropeçam.

Bebo da água insalubre
Que me corrói as entranhas,
Mas é o impuro horizonte
Que me retém as manhas.

Ao forte insinuante
Encaro de longe,
Pela janela do quarto
Onde me faço monge.

O flamejante dragão
É metáfora épica
Do ardente coração
Que falha na métrica.

A névoa sorrateira
Que empalidece o Vistula
É do futuro à beira
A percepção nula.