Saturday, August 16, 2014

A Lombra

Faz-se prolongar indevidamente, a noite,
Transcorrida largamente pela lentidão dos ponteiros,
De segundos que se arrastam, hipnotizados,
E pelo ritmo atenuado de sapatos estaladiços.
A dança paulatina das árvores ao léu
Interpola a desforra moribunda
No epílogo do limbo urbano;
Escombros humanos soterrados na penumbra,
Na sarjeta,
Na decadência poética,
No esgoto do livre arbítrio,
Dichavando a perdição,
Entornando tinto seco goela abaixo,
Encarando a pose arrogante das gaivotas famintas
E o desfile de carcaças distintas
Na passarela dos emborrachados.

Engolidos pela madrugada desacelerada,
Pela rouquidão da sombra motorizada
Que suga a produção inútil da vida noturna;
Espólios da boemia gentrificada.
Os resquícios de luxúria se dissolvem nas atenuantes,
Nas luzes flamejantes difusas,
Tanto quanto nos dissolvemos nos delírios
Das gargalhadas histéricas
E na leveza desvairada.

A invocação matutina é o absurdo dos sentidos,
É a visão turva e desajustada,
A silhueta trêmula; valsa de cadência cambaleante
Nos passeios padronizados.
Mentes despidas, centrifugadas e aceleradas
Em conjeturas que se sucedem inacabadas.

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