No
improviso deste foragido ninho
No
cativeiro da nossa cumplicidade,
No
ritmo da música minimalista
Da
orquestra das ondas
Que
se insinuam sob o horizonte
E
nos atiçam
Como
a vinhaça vadia
Que
rubra o nobre cristal,
Despidos
dos devaneios citadinos
E
das precauções convencionais;
Dançantes
também são os nossos corpos simbióticos
Que
se procuram e se encontram
E
encerram o suspense da nossa covardia.
Entorpeço-me
de ti!
Mordo-te
e abocanho-te
E
desvendo os teus becos úmidos efervescidos
Enquanto
o teu gemido
Rasga
como um solo de guitarra
O
marasmo rítmico do mar tempestuoso
Que
nos braveja a luxúria.
Sobre
a cama que se debate contra a parede
Celebramos
mais do que a polivalência fisiológica;
Celebramos
a nossa ardente amizade sem limites,
Desamarrada
e enlouquecida.
As
tuas unhas felinas raivosas
Rabiscam
poesia na minha pele sardenta,
E
a dor que eu sinto é o ápice
Da
vontade incontida de nos sentirmos
E
partilharmos as sensações
Despoletadas
pelos nossos olhares embriagados
E
pelo toque quente dos nossos dedos suados
E
dos beijos que norteiam nossos rostos
Ao
encontro um do outro
E
desfocam tudo ao redor
E
desnorteiam o juízo procrastinador.
O
teu gemido é música!
O
meu suor é afluente do rio que escorre
Pela
geografia do teu corpo pálido:
Território
proibido que eu avanço
Em
nome da rebeldia dos amantes impuros;
Em
nome da tua incontrolável vontade
De
cometer erros tão necessários;
Em
nome da chama que emerge da tua voz
E
me consome a temperança
E
me acende o apetite de devorar-te
Desvairadamente
No
altar das nossas preces seculares
Que
afirmam os corpos
E
libertam as mentes.
E
na noite das ondas dançantes,
No
lusco-fusco do abajur avermelhado,
Eu
exploro-te os relevos insinuantes,
As
tuas planícies delgadas
E
as tuas matas rasteiras vulcânicas,
Tal
qual Humboldt.
És
a minha América!
Desvendar
os teus fenômenos
É
o que me move e me atrai
Aos
teus terrenos envenenados
E
movediços nos quais me afundo.
E
afogo-me na fluidez que te provoco
Com
meus toques,
Ora
gentis, ora ásperos.
A
loucura que paira no ar viciante
Dos
nossos odores libidinosos
E
repousa nas roupas violentadas
E
atiradas ao abandono
É
o que mais me vicia em ti;
É
a fúria carnal
Que
goteja em cada curva tua
E
sacia a minha sede.
O
que diria Kundera,
Ali
abandonado
À
leveza do chão frio que nos sustenta,
Da
magia profana
Do
vaivém dos nossos corpos fundidos?
O
que dirá o silêncio constrangedor
Do amanhã rastejante
Entre
a ressaca hipnótica
E
o arrependimento efêmero
Que
logo será fogo novamente
E
queimará mais uma vez a razão inútil
Em
nome da celebração
Da
nossa amizade precipitante?
Bebemos
doses brutas do fel
Da
conivência aventureira
Que
explora os cantos polidos
Onde
se escondem as nossas quimeras,
E
a noite vindoura já anunciada
No
acumulo desses olhares comprometidos
Acolherá
como se fosse a primeira vez
A
dança dos nossos corpos
No
ritmo galopante e anárquico
Entoado
em gemidos rasgados.
Eu
te quero no teu cheiro congelante
E
na tua boca que me morde
E
me desfia o juízo.
Eu
te quero na nudez da tua entrega,
Nas
tuas nádegas sóbrias esculpidas
Como
o traçado elegante
De
um pintor renascentista.
Eu
te quero no olhar que se perde no êxtase,
Nas
nossas lambidelas suculentas
E
na desesperante busca da insanidade.
Eu
te quero nas palavras sujas,
Nos
fluídos e nos sabores amargos,
Para
tragar-te no nosso altar escaldante
Adornado
por lençóis corrompidos
E
por vestes retorcidas
E
livros subvertidos
E
cabelos arrancados
E
peles rabiscadas
E
gemidos roubados
E
o tempo paralisado
Num
beijo sufocante
E
na estocada final
Como
o aceno de um maestro
Que
recolhe aplausos
De
uma plateia onírica,
E
por fim
Colo-me
a ti
Exausto
e desfeito em suor
Para
suspirar o dever cumprido
De
despurificar a pretensa santidade
E
de dar a este mundo
Mais
uma dose de mácula.