Wednesday, September 3, 2014

Flor Morta

É inócuo tudo o que é dito perante a empatia.
São palavras ocas que desfiam;
São vazias.
Elas podem aquecer
Apenas como a fogueira que finda na brasa
Por não resistir ao sopro rigoroso
Do inverno da alma.
Esquece as palavras!
Olha-te quem és nem que seja pelos meus olhos.
Não preciso chamar simpatia
Ao sorriso que em ti brilha;
Nem humildade
À forma como à própria escalada reages;
Nem loucura aos teus ímpetos
Que são tão desesperadamente meus
Que nem imaginas, nem imaginas...
E a cada nova porta que abres
Não preciso chamar curiosidade;
No mel da tua doçura não preciso lambuzar-me
Para provar o conforto da tua simplicidade.
Não preciso aprender outras línguas
Para chamar-te cosmopolita.
Nenhuma palavra te descodifica,
Porque está tudo gravurado na tua essência,
Sem que seja preciso um espelho
Para mostrar-te a tua beleza.
Não preciso atiçar-te no apagar das luzes
Para sentir a tua paixão
Em ebulição:
O clamor pela vida que te rubra.
Faço-o pela vontade egoísta de contagiar-me
E entorpecer-me de ti.
Não preciso ser maquiavélico para chamar-te inocente:
Inocência num mundo de culpados
É o estandarte da coragem.
Mas não são virtudes as palavras elogiosas
Na rima dos versos ou na cadência das prosas
Se eu não as assumo minhas
Para que possas olhar-me nos olhos
E, simplesmente, proteger o silêncio.
É como uma flor morta,
Que ainda assim transborda vida
E diz mais do que mil palavras escritas.

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