Livres
do ruído
E
das luzes da cidade,
Das
confusões,
Das
impermeabilidades.
Nossos
pés desbravantes
Merecem
a suavidade
Da
fria areia,
Porque
esta noite
É
A Noite!
Não
é mais uma distração;
Não
é algazarra sem razão.
Isto
é a eternidade
Passando
pelos nossos olhos,
Queimando
na fogueira
Junto
aos granitos aflorados
E
caprichosamente ilhados.
Esta
é a noite
Pela
qual esperávamos;
É
o último andar
De
uma construção sem fim.
Porque
o tempo que corre
E
não perdoa
Fará
cinzas disto tudo
Quando
acabar a lenha
Mas
não passar o fumo
Enclausurado
Nas
nossas mentes inconsoladas.
E
esta noite,
Que
dia começou
E
dia acabará,
É
a chegada de uma corrida ao contrário
No
avesso mundo nosso,
Encaixada
neste paleovale wurmiano
-
válvula que regula rio e mar.
Amansam
as ondas
Nossos
corpos nus,
Porque
inúteis são as vestes
E
quaisquer superficialidades
Que
não a nossa própria pele
Salgada
e coberta
Pelo
manto arenoso que se agarra
Nos
nossos reboliços
Encalhados
nesta margem
Irregular
e flutuante
Da
praia
E
da lucidez.
Porque
esta não é uma água qualquer;
É
a água desta noite,
Que
não é uma noite qualquer;
É
a noite das noites,
Que
também não foram noites quaisquer;
Foram
as nossas noites!
Que
tanto devoramos
Porque
nos aventuramos
E
desafiamos
E
fugimos da frivolidade,
Das
ofertas de bagatela,
Dos
lugares-comuns.
Porque
a aventura de viver
É
medida por estes momentos
Singelos
e colossais.
E
descomunais!
Tanto
que ali,
Depois
da próxima curva do relógio
-
Que eu já consigo ver
Por
tão bem da nostalgia saber -,
Espremerão
o peito
E
derramarão lágrimas
No
simples gesto de recordar,
E
querer voltar,
E
realizar
Cada
ideia louca,
Cada
lapso alucinante
E
os impulsos delirantes.
Esta
é a noite de todas as razões
Emergidas
no desejo
De
descascar-se de casulos.
E
enquanto o fogo queima os espólios da praia
Como
se dançasse as nossas cantigas,
Nós
acalmamos as ondas frias
Com
nossos corpos quentes desroupados,
Porque
tão bem eu não te conheço
Para
evitar esta cumplicidade
Tão
libertina
Como
a ousadia
Que
se eleva no suspense
E
nas insinuações apimentadas,
E
tão inocente
Como
o teu quer-mas-não-quer,
Como
a tua voz exclamada
Ao
mirar-me ao natural
Enquanto
eu te dispo;
De
roupas!
E
de embaraço!
E
de amarras!
E
bailamos sobre o manto silícico,
Porque
esta é a noite
Das
perenes pegadas
Que
o vaivém das ondas
Não
desfaz nem apaga
E
que o martelo do tempo
Na
parede da nossa memória
Martela
e crava.
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