Wednesday, September 10, 2014

A Cave Encantada

No vale dos rabelos,
Nas fundações caprichosas,
Paira-nos a derrocada
De irregulares encostas.

Sob nuvens viageiras
Que aveludam o céu
Na cidade distraída
Por ecrãs verdes ao léu.

Pelas vidraças destroçadas
Eis o quase talvegue
De brilhos tão radiantes
Mas hábitos alienantes.

E no escuro velho galpão,
Protetor da história
- Enólogo guardião
Que engarrafa a memória -,

Não só velas fazem luz
Nas festivas comunhões,
Há também a que produz
A áurea dos próprios foliões;

Libertadores de recantos
Esquecidos pelo mundo;
Condenados aos desencantos
Que deles fazem casas de chuto.

Mas nas poucas eternas horas
A música desencaixota
E o vinho desengarrafa
E em vida fica a cave envolta.

E quando numa ébria noite
A nostalgia latejar
E eu não mais sentir a música,
E a luz da ponte se apagar,

Ocuparei a margem norte
Do célebre manancial
E sorrirei a mais um lote
De onde emanou a Bella Ciao.

No comments:

Post a Comment