Tuesday, February 10, 2015

O Espectro

A robustez da tua ausente presença,
Tão convidativa à loucura,
Tão amarga e tão criativa.
Esta cidade tão pequena para nós dois
Sugere a surpresa inoportuna,
Atrai-nos um ao outro
Por essas ruas deslizantes e apelativas.
A tua iminência sopra-me nos ouvidos
Como uma brisa mensageira,
Como o suspiro do perigo
Ou como a sorte retumbante.
Nem o inquieto manancial que nos separa
Resgata trégua da inevitabilidade,
E não oferece obstáculo
Ao teu vício de invadir-me território
E penetrar-me a temperança.
Estás na silhueta ao relento,
Nos caracóis deambulantes,
Nos passos desajustados.
Estás nas vestes banais,
Na portugalidade,
Na pronúncia do Norte.
Estás nas ruelas,
Nas calçadas vomitadas,
Nos largos escuros,
No trânsito ruidoso.
Estás nos vultos dançantes,
Nos passos cambaleantes,
Nas gargalhadas estridentes.
Estás nos casais que me atormentam,
Nas aventuras noturnas,
Em cada rosto que me encara.
Estás no meu medo,
Na minha aflição,
Na ansiedade que corrói,
Na eterna insônia.
Estás em todo o lado
E em lado nenhum.

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