Tuesday, February 10, 2015

Arquitetura do Amor

O que faremos deste edifício que chega às nuvens
Mas que agora só oferece entrada para o inferno?
O que faremos desta estrutura megalómana
Edificada pela embriaguez, pelo desespero,
Pelos exageros inevitáveis
E pela cumplicidade mais pura?
Que nos condene Afrodite
Pelo pecado de não residirmos barricados
Contra o mundo
Dentro desta nossa construção tão dispendiosa
Erguida num verão úmido,
Posta à prova num outono labiríntico
E abandonada no rescaldo de um inverno
Como todos os outros.
Quem a habitará,
Agora que fugiste
Para seres um sem-abrigo
À mercê da tua própria chuva de inconsequência?
Sozinho não caibo num espaço que é de dois!
Quem, neste mundo, ainda terá a coragem
De habitar o amor?
De construí-lo! Tijolo a tijolo!
Mesmo levando, quiças, fortuitas tijoladas.
Quem se abrigará no amor alheio?
Que ao menos se inspirem nas nossas ruínas
Antes que elas desmoronem
Após uma das nossas tempestades
Ou se perca debaixo de uma avalanche
Deste mundo frio.
Mas o mais provável é que ela seja devorada,
Da base ao teto,
Pelo tempo.
E apodreça carcomida pela flora
Das sucessivas primaveras.
E, talvez, num verão ensolarado,
O acaso nos confronte,
E com o amor já sepultado
Sob as ruínas desta nossa obra
Talvez possamos iniciar outra,
Menos pesada e mais flutuante,
Ou simplesmente deixar a chuva cair
Sobre nossas cabeças
Sem nos abrigarmos,
Até que a enxurrada nos escorra para algum lado.

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