Sunday, May 18, 2014

O Diploma

Graduei-me nos exames práticos
Do asfalto frio e do vagão vazio
Do beco imundo e do quarto escuro
Dos copos e dos corpos
Dos livros empoeirados
Meu rasto é o meu currículo
A noite, minha docente
Nua e crua, ela ensinou
O que eu sei e o que eu sou
O teu diploma oficial
É um papel de convenção
Que decora o teu vazio
Com uma qualquer distinção
Vivendo a vida eu me formei
De caráter e de individualidade
Enquanto a cátedra te relegou
À academia da vaidade
O axiônimo do teu rabisco
Pode ser Mestre ou Doutor
Mas tua rubrica tem menos curvas
Do que a estrada que me formou
E pelos erros e desvios
Faço a vida que é minha
Não renego à minha vontade
Para encaixar-me na sociedade
E se por ti eu me perdi
Com isso também eu aprendi
Foste um teste que eu superei
A maior nota que eu tirei
Hoje eu olho para trás
E vejo o quanto eu cresci
E segues a vida parada
Lutando com velhos fantasmas
O que o futuro nos reserva
Até arrisco-me a prever
Transpiro a alma, sinto a essência
E tu sustentas uma aparência
A melancolia é o elo
Da nossa paz de cemitério
Do nosso amor é o duelo
Da sentença é o martelo
Mas a dor que a nós já não une
É diferente e eu sei por quê
Eu carrego o peso da vida
E tu flutuas sem viver.

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