Tuesday, May 13, 2014

Beatriz

Numa rua escura
Idealizei-te
Fiz-me cosmopolita
Numa esquina da vida
A minha inocência
E a tua ternura
Arderam meu peito
Fiz-me aventureiro
Fui de ti à procura
Busquei-te em lapsos
Desvendei-me coragem
Cortejei-te em meus passos
Perdemo-nos na noite
Desafiamos os becos
Foste cúmplice fiel
Do meu crime perfeito
Desbravei estradas
Desfiz-me de amarras
Lapidei um romance
De lares distantes
Engoli a derrota
Chorando sem lágrimas
Numa guerra perdida
De batalhas vencidas
E quando a nossa distância
Um oceano alcançou
E eu, partido
Em lusas terras perdido
A tua voz, ressurgida
Quase que arrependida
Numa levada traquina
E pronúncia nordestina
Deixou-me a certeza
Da tua pureza
Edificou a tua lenda
E a tua singela nobreza
No ato do acaso
De uma noite eterna
Uma infância findada
E uma história criada
Da nossa aventura
Quimera do interior
Dei-me ao mundo;
Cosmopolita profundo
Mas mantive-me preso
Aos ares provincianos
Como em Aracaju
Por mais que passem os anos
Porque como a semente
De todas aquelas frutas
Está em mim plantada a guria
De Itaporanga D'Ajuda.


Nota: uma noite qualquer, sentado na esquina ouvindo música. Passa uma moça e eu a provoco. E é timidamente recíproco. E foi ali, numa praça vazia e vadia, algures em Aracaju. Um romance que acabou antes de começar, mas que me marcou tanto quanto a ela, a morena dos cabelos cacheados de Itaporanga.

No comments:

Post a Comment