Monday, April 7, 2014

Poesia sem Poeta

Se ainda me restasse ternura
nestes braços sem pujança
após abraços desalmados
sem música e sem dança
Se ainda me restasse coração
nesta vida já mal sentida
de desencantos encantados
e romarias sem partida
Se ainda me restasse esperança
e o vigor da juventude
após os anos de cansaço
de um tempo sem virtude
Se ainda me restasse emoção
de uma paixão repentina
ou da fervura de dois corpos
em simbiose e adrenalina
Se ainda me restasse
a ternura e o coração
a esperança e a emoção
eu dar-te-ia uma flor
e a chama do meu amor
queimaria a razão
Mas eu já não sinto
sou pedra da ribanceira
sou orvalho matinal
e já sequer nem minto
me manifesto na frieza
como o vento invernal
Mas eu juro
pela palavra mais sagrada
de um ateu consequente
que se ainda me restasse vida
ou vontade incontida
ou a dor da saudade
e algum traço de vaidade
ou se ainda me restasse o tempo
para investir na humanidade
ou ainda a certeza
da magia e da beleza
Se eu fosse um poeta
ainda com poesia
se eu fosse um músico
ainda com melodia
A mais um erro eu cederia
e à revelia eu te amaria

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