Friday, November 8, 2013

A Voz do Silêncio

As pessoas falam, falam. Suas vozes são irritantes, sufocam-me. Falam e não dizem nada. Só resmungam. Não se apercebem de que incomodam. Como se a verborragia fosse remédio. As palavras não são absorvidas, o sentido do que dizem desfaz-se no ar. Nos meus ouvidos só entram sons agudos que me aguçam o peito e me fervem a cabeça.

A culpa é do silêncio; ele fala demasiado. Fala tanto que qualquer outra voz satura a minha paciência. O silêncio ensurdecedor, desconfortante. O silêncio das paredes, na penumbra. O silêncio das ruas infestadas de carros. O silêncio de uma repartição pública. 

Falam comigo como se eu fosse obrigado a lhes engolir. Falam e querem ouvir falar. Não reparam no que diz o silêncio, muito mais profundo e revelador. A voz é o pensamento codificado. O silêncio é totalmente despido, transparente. Não divaga por entrelinhas; escancara com crueza.

A cadeira sendo arrastada. A gata no cio. O telefone tocando. Tudo ao mesmo tempo ou não. Muitas ou poucas vezes. São vozes! Cada manifestação delas é uma dosagem a mais, uma overdose, que se acumula, acumula. E gera silêncio. O meu silêncio, tão esclarecedor, tão transparente. E ninguém repara. Porque querem ouvir aquilo que só podem ver.

No comments:

Post a Comment